O novo presidente e algumas reflexões sobre liderança

O novo presidente e algumas reflexões sobre liderança

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Assim como boa parte do mundo, acompanhei nesta semana a cerimônia de posse de uma das maiores posições de liderança do planeta.

Não cabe a mim qualquer julgamento sobre esquerda ou direita, macroeconomia, ações passadas e acordos judiciais, relações internacionais ou estratégias políticas.

Mas entendo que tudo o que estamos testemunhando pode – e deve – ser estudado sob a perspectiva da liderança.

Isto posto, apresento a seguir alguns pontos-chave sobre o entendo que um bom líder NÃO deve fazer:

1. Se balizar pelo ego – existe um perigo muito grande em acharmos que somos uma cadeira, e não que apenas estamos nela. Além disso, um líder que se cerca de pessoas que somente acatam e não contra-argumentam, adulam mas não contrapõem, e que o seguem cegamente, pode se desconectar da realidade, impactando seriamente a direção de projetos e a geração sustentável de resultados.

2. Ter baixa escuta ativa – um bom líder sabe a importância de falar por último, dando espaço para novas ideias e diferentes pontos de vista. Alguém que desmerece o senso crítico e a opinião contrária, ouvindo apenas a si mesmo, tem no poder, na opressão ou no medo alternativas de ação muito frequentes.

3. Achar que está sempre certo – nenhum líder consegue ter todas as respostas ou estar sempre certo. Aliás, mais do que respostas, são as perguntas que ampliam modelos mentais e dão espaço para a inovação, para o pensamento diverso e para resoluções de problemas de forma robusta. Mais do que querer estar com a razão, um bom líder tem em mente o impacto e o legado, considerando o outro, o ambiente e a sociedade.

4. Responder muito e perguntar pouco – um bom líder é vulnerável, humilde e aberto para novos aprendizados. Isso pressupõe perguntar, querer ouvir outras opiniões, falar depois dos demais e refletir sobre novas e melhores formas de buscar soluções para problemas cada vez mais complexos. Ouvir apenas a voz do espelho é, novamente, uma grande armadilha. Para si mesmo e para os que com ele trabalham, que mais cedo do que tarde vão embora.

5. Apresentar padrões éticos duvidosos – um bom líder não verga seus padrões morais de acordo com o interlocutor ou o ambiente. Não faz conluios ou visa obter vantagens indevidas em detrimento de outros. Defende a justiça, o fazer o certo, o respeito a todos e a humanidade como fio condutor de boas ações.

6. Enxergar os diferentes como seres inferiores – um bom líder tem referências pessoais fortes e sadias sobre a igualdade e a equidade. Reconhece as diferenças e valoriza o diverso, entendendo que a soma de perspectivas e histórias diferentes fortalece o pensamento estratégico, os planos de ação e a entrega de resultados sustentáveis. Isso vale para gênero, raça, orientação sexual, origem geográfica, entre outros exemplos.

7. Desconsiderar a diversidade – um bom líder pratica a empatia e busca respeitar pessoas com origens, credos, opções de vida ou orientações diferentes das suas. Reconhece que somos todos seres humanos e que cada um tem sua história, suas afinidades, desejos e formas de expressão. E como bom maestro, integra, reúne e conflui os diferentes, sempre com respeito, para resultados coletivos maiores e melhores.

8. Revogar de maneira abrupta direitos adquiridos – um bom líder respeita a história, os direitos conquistados e as circunstâncias. Pode questionar e avaliar melhores modelos, mas sempre levando em conta o que houve até o momento presente. Evita decisões autocráticas e não discutidas, bem como a imposição, a interrupção abrupta e a ausência de análise de contingências.

9. Desmerecer esforços e projetos de gestões anteriores – um bom líder não destrói ou aniquila esforços anteriores. Reconhece boas intenções, procura aprender com o histórico e utiliza os aprendizados, acertos e erros do passado para a proposição de novos caminhos, com tato, cadência e sensibilidade.

10. Forçar todos a modelos ultrapassados – um bom líder entende que uma regra única não pode ser aplicada a todos, que a pandemia trouxe uma série de ensinamentos, que as pessoas precisam ser ouvidas, que o engajamento dos trabalhadores é parte essencial da produtividade. E que o diálogo, bem como os pilotos de novos formatos de trabalho precisam ser honrados e praticados.

11. Achar que somente o que importa é o hoje – um bom líder equilibra as visões entre hoje e amanhã, aprende com o passado, aplica uma perspectiva holística em prol da sustentabilidade e reconhece que, como seres humanos, temos apenas um único planeta ou ninho. Cuidar de somente um pedaço ou destruir outros significa limitar, cercear ou dizimar. As pessoas, a sociedade e o planeta.

12. Não desenvolver uma visão sistêmica – um bom líder defende seu time e sua empresa, mas igualmente reconhece que a organização – e as pessoas – estão inseridas em uma sociedade interconectada e interdependente. Entende que nossas ações de hoje terão impacto direto no amanhã, no futuro que queremos e almejamos, bem como no legado para as próximas gerações.

Entendo que a reflexão sobre os pontos acima (e outros) pode ser um bom começo para todos nós. Pois não podemos mudar o que está posto, mas podemos refletir nossas atitudes e mudar a nós mesmos.

Podemos escolher o que queremos, ou não, fazer. Bem como que tipo de líderes optamos por ser. Pautados por um processo de tomada de consciência sobre o tom do topo, o espelho importante que significa a figura de um líder.

Para criar times do bem, diversos e competentes. Que vão criar estratégias, colocar em prática planos de ação, avaliar resultados, revisitar formas de pensar e agir.

E principalmente se responsabilizar.

Como líderes. E também como adultos, profissionais e seres humanos.

 

Escrito por André Caldeira

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